sábado, 23 de outubro de 2010

O que nasce da terra salgada?

Noites gloriosas frustradas, arruinadas, comparáveis somente as ruínas daquela um dia bela terra de Dido, queimada e salgada até os alicerces por Cipião Emiliano. A desilusão impera nas agradáveis noites da primavera. Desilusão...
Do latim desilludere, que num exercício etimológico podemos derivar de ludus, o que é lúdico, um jogo, uma brincadeira; Tal qual os jogos, as desilusões nos conferem a capacidade de tirar experiências e aprendizagens (embora prefira a aprendizagem do banco imobiliário do que de um amor não correspondido).
Nas belas noites de primavera, onde o ar esta impregnado do odor doce da dama-da-noite, o que temos a fazer? Tomar um gim no bar, ler algum romance de Jane Austen na varanda, relembrar doces momentos de outrora, quando o céu era ainda mais azul, as pessoas mais bonitas, a cerveja era mais barata e o jardim ubérrimo. Não perturbar a tranquilidade e a serenidade do espírito. Repentinamente seus anseios masoquistas lhe provocam, e você resolve lembrar que tem um coração partido. Agora a idílica noite de primavera, antes alegremente bucólica, te inspira a um sentimento byroniano; O gim troca-se para o whyskie, de Austen na varanda para Bukowski em um beco sujo qualquer, de teu jardim agora só se deseja que brote papoula.
Vai pro puteiro diz a alma egoísta, vai pro puteiro! Em parte um impulso correto, os outros se divertem na agradável noite de primavera, agora é tua vez!
Procuro por uma moça que pareça com aquela que amo, violá-la violentamente. Não acho sequer uma com a mesma cor de olhos.
Afogo-me nos lençóis dúbios daquela que me parece a mais inexpressiva, sem características muito marcantes, no entanto regularmente bela.
Sem questionamentos, sem diálogo, sem amor nem ódio. A única alegria verdadeira na agradável noite de primavera foi terem me tirado, por questões econômicas dizem, uma hora de sofrimento.
Volto torpe, e artificialmente sem qualquer tipo de emoção, mas sabia que minha alma era terra arrasada e cruelmente salgada, aparentemente estéril doravante.
Aparentemente, eu digo, pois de Cartago arrasada, surgiu um balneário, já de meu jardim, apenas mato e capim, agora de meu coração, fica a pergunta: O que nasce desta terra salgada? Creio que surgirão rosas, sempre belas, mas com muitos, muitos espinhos.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Páris, seu grande idiota!

Quando solicitado a prolatar sentença favorável a apenas uma das grandes Deusas do Olimpo, Páris, por mais improvável e ilógico que possa parecer a primeiro momento, foi favorável às bençãos de Afrodite. Poderia ele ter aceitado as riquezas de Hera, ou o poder e sapiência de Atenas, mas não. O idiota escolhe o amor.

Ahimé, o amor!!!!

Nem o próprio demônio poderia engendrar tamanha maldade contra o Homem.

Por causa do amor os desgraçados filhos de Hécuba foram supliciados, por causa do amor o hirsuto Príamo foi vilmente assassinado, nem Aquiles escapou do sofrimento com Pátroclo ou com Briseida. Ó Páris, maldita seja tua escolha!

Ofélia morreu por amor!

O que podemos dizer de Otelo e Desdêmona? A ambição de Iago era motivada principalmente pelo amor à filha do Doge.

Vamos ao exemplo dos casais, Romeu e Julieta, Hero e Leandro, Tristão e Isolda, todos conhecem o final trágico destes amantes.

Céus, os amores não correspondidos de Stendhal

Senhores, não sou Diotima para explicar-lhes a origem do vil sentimento, ja inumerei inúmeros casos aqui, para que se torne evidente a natureza da paixão, e seu inexorável destino trágico. O amor é uma desgraça. Uma grande desgraça. A melhor das desgraças, ja que como diz García Márquez "Não há pior desgraça que morrer sozinho".

Amem, é a única coisa que é realmente válida, é a única filosofia útil, se o pensamento é aristotélico ou kantiano, se o fenômeno tem nove ou doze categorias, isto fica em segundo plano, a única questão, a questão que pontua a existência é: O que vale uma vida sem amores?

Resposta simples: NADA!

Páris diria sim para afrodite novamente se lhe fosse dada outra chance, acreditem nisso.

Faço minha as palavras da proxeneta de "Memória de Minhas Putas Tristes": De verdade, terminou ela com a alma: não vá morrer sem a maravilha de trepar com amor".

Páris, seu grande idiota, eu te invejo!