quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O eterno retorno II

Dr. Norton, muito consciente de seu dever social e imbuido da caridade de um genuíno Cristão, atende inúmeros casos peculiares, daqueles que não possuem divisas para pagar um bom tratamento de saúde.

Notável é a história, de um rapaz, aspirante a jogador de futebol e morador de uma favela localizada na perigosa comunidade do quinto dos infernos, periferia de algum lugar por aí. O rapaz não pôde pagar pelo seu tratamento de saúde, mas como sinal de gratidão, inerente àquela população nesta faixa de renda, resolveu presentear Dr. norton com uma singular estatueta de bronze:

- O doutor me salvou, minha mãe e eu não temos posses, mas é de muito bom grado que resolvemos presentea-lo com uma magnífica peça de bronze, uma verdadeira obra de arte. mamãe tem como fonte de renda a revenda de metais, coletados como sucata e revendidos para a reciclagem.

Dr. Norton, modesto e educado tinha a intenção de fazer um teatrinho, falando que não era necessário e não podia aceitar, mas quando viu a magnífica obra de arte...

- Não posso aceitar.

- Imagine doutor, é de coração.

- Nós já conversamos e eu te expilquei q o corção é saudável, o problema é só a proactite.

- Eu me referia ao presente doutor.

- Ah sim! mas eu não posso aceitá-lo de qualquer maneira.

- Mas doutor o senhor me salvou, eu chefe de família, rebento de minha mãe e esperança da comunidade... seria uma desfeita não aceitar...

A estatueta, um emaranhado de pernas e braços de corpos desnudos de fato não era muito apropriada para o consultório de um respeitado médico mas, sempre dotado de uma lisura ímpar, Dr.Norton aceita o presente, e se despede do jovem.

Ele tem de se livrar do luxurioso objeto, apesar de não negar que é verdadeiramente uma obra de arte, uma arte que talvez não fosse compatível com o bem-estar de seus pacientes.

Subitmente lhe veio a idéia de fazer uma visita para um antigo colega de escola, hoje um famoso advogado, mas mais famoso como um bon vivant que era, certamente iria adorar o tema inspirador da estátua.

O malicioso colega advogado (perdoe-me o pleonasmo), viu e riu, da talvez mais maliciosa obra de arte. No entanto, quando lhe foi ofertada pelo amigo de longa data, se esquivou e recusou o presente.
- Eu até achei a obra bem humorada, no entanto, assim como você, eu também atendo clientes aqui, e digo mais, onde a colocarei quando mamãe vier me visitar? Não espera que eu a deixe aqui às vistas de tão distinta senhora, que é a minha mãe.
- Mas oras meu amigo,tu vives se gabando de suas galhardias e de seu comportamento boêmio!
- Sim, e me regojizo disso, todavia não para os cliente e para minha adorável mãe!
- Não seja mal educado, presente não se recusa, se não o quiseres, pode passá-lo para outro, como confesso que o fiz.
- Pois é o que eu farei, tenho um cliente ator da companhia de teatro, e companheiro das noites no cabaré, que certamente irá achar graça, não somente em ver a obra de arte, assim como de mostrá-la a todos que passarem no camarim.
Era noite de estréia e o vetusto ator estava a receber seus amigos mais intimos no camarim, todos traziam belos arranjos de flores, garrafas de bons vinhos ou indicaçoes de belas e boas mulheres, o doutor advogado no entanto, trouxe algo diferente.
- Mas o que é isso? você esta mandando esculpir suas aventuras noturnas?
- Óbvio que não, vc não ve que nesta belíssima obra de arte existem muitas pernas e braços?
- Hum... bem notado, nunca vi tantas pessoas em tão pouco espaço e com tanta elasticidade, devem praticar yoga...
- Que bom que você gostou do presente, certamente ficará lindo aqui no camarim!
- Mas o que? você esta louco? acha que eu o deixaria aqui exposto aos meus empresários, patrocinadores, críticos e colegas....
- Bem, eu pensei que...
- Francamente eu não sei o que você tem na cabeça para pensar que esta estatueta seria adequada.
- De quelquer forma, eu digo, aceite esta obra de arte, é presente, e ñ se recusa um...
- Maldita etiqueta...
- Até breve, e boa peça.
O ator ja tinha em mente o que fazer com o artefato, iria ao ferro velho daquele favelado, na comunidade onde ele abastecia suas necessidades de ópio e haxixe.

Negociou o artefato, que era de bronze maciço, por uma pequena quantidade, o peso do bronze havia se desvalorizado naquele período de crise, mas para o jovem que trabalhava no ferro velho, e tinha aspirações na carreira futebolística, aquilo foi um verdadeiro achado.
No dia seguinte ele foi ao consultório do médico, salvador de sua vida e disse:
- Doutor, por um milagre de Deus, eu recuperei o par daquela bela estatueta que eu lhe dei, agora o senhor ficará com a obra completa!
Ele pousa a estatueta lascíva na mesa do médico, este a olha e diz:
- Você não sabe como eu fico feliz em ter as duas partes.

3 comentários:

  1. AEHUAHEUAHUEHAUEHUAHEUAHUEHAUHEUAHEUHAUEHUAHUEHAUEHUHUEHAUHEUAHUEHUAHEUAHUEHAUHEUAHUEHAUHEUAHUEHAUEHU... Ri muito dedé... Um belissimo exemplo do eterno retorno e muito mais divertido tb!

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  2. Dézão
    Foi a maneira mais criativa e engraçada que eu já vi dessa piada do eterno retorno.
    Gostei de todas as piadas, esse texto tá a TUA cara, bem escrito (MESMO) e coerente (entendo que é uma alegoria, o que explica o fato de o favelado falar tão eruditamente).
    Parabéns, tá cada vez melhor! Bjão

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  3. É melhor dizer que este texto é baseado em um conto de Anton Tchekov, chamado "A obra de arte" (não sei o nome original em russo)
    De Tchekov peguei o enredo e o mote da piada, assim como os personagens, apenas adicionando algumas piadas e trocadilhos infames, o que me atraiu no texto, foi a oportunidade de lhe dar outro titulo, um que ainda destacasse mais a ironia do autor russo com a excentricidade do alemão maluco (Nietzsche.

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